quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Would it make you feel better to watch me while I bleed?

Skies are crying
I am watching
Catching teardrops in my hands
Only silence as it's ending, like we never had a chance
Do you have to make me feel like there is nothing left of me?
You took everything I had
You broke everything I was
As if I were made ​​of glass
As if I were made of paper

Go run, run, run
I'm gonna stay right here
Watch you disappear
Go run, run, run

Go run, run, run
that's the only thing you know how to do
coward

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Domingues

(Desenho: Artur Domingues)

Soneto

Tordilhos, alazãos, cavalos baios

neste campo de mar nos são de espanto,

que é rosa a rosa, canto apenas canto,

e os cavalos são rendas, contemplai-os.

Jazem despertos, lúcidos lacaios

de vestes vagas cuidam no entretanto

do seu possível sono a bem de manto

para que os não de ventos e de raios.

Há cavalos vermelhos, mas não esses

porquanto quase azuis. Se os conhecesses

não teria o meu reino e os meus cavalos.

Que ao fim seriam teus, que és feita em bruma,

esses que são de mim corcéis de espuma

de quem só sabe azul no contemplá-los


(Edmir Domingues)

Poema para Velhos

Onde se fala da emoção imperdoável

— e vergonhosa —

das lembranças do País chamado Infância

Nas comarcas de Infância havia vida.
O que fiz dessa vida? Que sei eu?
Onde estão os anseios desse tempo?
Pois havia, no então, as borboletas
de asas azuis, que agora já não vejo,
as quais eu perseguia, sob as sombras
das bananeiras e dos laranjais.
Que fazer, neste instante, para vê-las
em viagem de volta aos tempos idos?

É muito tarde, Amor, é muito tarde.

Cantava o sabia sobre as palmeiras
que os ventos marinheiros balançavam
como as brisas beijavam as bandeiras.
Como tornar atrás, sem instrumentos,
sem mapas nem roteiros, destruídos
no fragor dos combates os sextantes?

É muito tarde, Amor, é muito tarde.

Os perfumes de Infância, nos cabelos
da bem-amada, onde estarão nesta hora?
As pipas coloridas, os campinhos
de várzea, num País de Juventude?
Tudo isso acabou. Toda a pureza
morreu, estraçalhada pelas Máquinas.
As crianças de agora se realizam
na frieza dos seus computadores,
curtindo os seus Heróis da Violência,
com sangue, sangue. E cada vez mais sangue.

Não pisaram, jamais, terras de Infância.
já não creem no Lobo, na Avozinha
do Chapeuzinho, a Casa da Floresta
construída de puro chocolate.
Papai Noel existe, com certeza,
para aqueles que sempre creram nele.
A Pequena Sereia, Os Três Porquinhos,
sandálias de cristal da Cinderela,
e João, Maria, os Ovos de Ouro, tudo,
mesmo o Patinho Feio que era um cisne,
já não são coisas da imaginação.

São tevês, são cinema, sem o apelo
das histórias de Infância.

(Capineiro do meu Pai, por que me cortas o cabelo?

Minha mãe me penteou, minha Madrasta me enterrou,

pelo figo da figueira que o pássaro picou... )

É muito tarde, Amor, é muito tarde.

Como as, outras histórias, sob a Lua
e sob os copiares, Lobisomens
e Mulas sem Cabeça, e Curupiras
com seus pés para trás, como antevendo
o para trás que cresce em tudo, agora.
E Anhangá, e a Alamoa, e o Negrinho
do Pastoreio entregue ao formigueiro.
Tudo morreu, nas garras do Progresso,
que é um bem, que é um mal inevitável.

A leitura está morta. Os livros todos
deverão ser lançados às fogueiras.

— Menos os bestasséleres que vendem como vende o pão-quente em padaria.

Resta agora a pergunta: como então
apertar mãos de Acab e de Simbad,
encontrar Aladim, seu servo, o Gênio,
escutar Sherazade, noite a noite?
Tudo acabou, e os sons da vida nova
são pios de Corujas, retalhando
as mortalhas do tempo, do meu Tempo.
Habita agora o Corvo no meu quarto.
Nunca mais voltarei a Infância, a antiga
pátria dos sonhos bons, das esperanças.

É muito tarde, Amor, é muito tarde.









Edmir Domingues

(Recife, 8 de junho de 1927 — 1 de abril de 2001)

"Toma-me pelo instrumento que melhor te agrade e por muito que me dedilhes, posso garantir-te que não conseguirás arrancar qualquer som de mim."

(Trecho da obra "Hamlet" de William Shakespeare, retirada do texto integral)

Coisas inúteis

‎"...Na vida ha certas coisas
Que possuímos,


inúteis,


Que jamais usaremos,




Mas que nos dão prazer



Ou certa segurança




No apenas possuí-las..."

Edmir Domingues
(Recife, 8 de junho de 1927 — 1 de abril de 2001)



quinta-feira, 31 de março de 2011

Choveu hoje....


...denso e rápido.

A chuva até passou, mas o dia continua denso.
Pouco vento, muito sol, poucas nuvens, muita luz, pouca sombra.

"tá demorado hoje né?...

será que hoje acaba?

falta muito?

posso pular logo para amanhã a tarde?

não quero mais brincar de disso..."

Um gatinho caiu da árvore onde trelava por conta da chuva densa, do dia denso, do tempo denso... de patinha machucada... nem brinca mais o pobre gatinho. Mesmo assim, cuidado ao tentar tocar, mesmo que seja para ajudar, ele provavelmente vai te arranhar por se sentir acuado e triste... e denso.





ai meu ombro.


sexta-feira, 25 de março de 2011

Sextina da Vida Breve


,...


Em dias destes dias (muito em breve)
partirei sem remorso desta vida.
Quem sentir minha falta seja forte.
Sei que a terra em meu peito será leve
se pesada me soube a dura lida
e quem viveu no bem não teme a morte.

O que vida será? Que será a morte?
Que haverá que eu não saiba muito em breve?
A ciência dos homens, por mais lida,
não decifrou sentido nesta vida.
Toda a filosofia que se leve
do mundo vão, nada terá de forte.

Bandeiras coloridas nalgum forte
fremem sempre de vida. Mas a morte
há de vir mansamente, o passo leve,
lembrando o acidental da vida breve.
Pois só de brevidade vive a vida,
e de mágoa, de dor, de dura lida.

Quanto haverá de prêmio após a lida
a quem não se curvou, a quem foi forte?
Ou é pura ilusão o Mundo, a vida?
Ou é sono sem fim, nirvana, a morte?
Sonho a se esvanecer, fumaça breve
que o vento mais sutil num sopro leve?

Possa eu seguir no barco de alma leve
ganho o óbulo em suor, preço da lida.
(Não dure a travessia, seja breve).
Um copo cheio de bebida forte
ajudará a olhar de frente a Morte
como ajudou a olhar de frente a Vida.

Nunca houvesse rompido o ovo da vida
e não conheceria a dor. Mas leve
do que o ser é o não ser. A vida e a morte
são dois prismas iguais da humana lida.
Pois todo o que nasceu, ou fraco ou forte,
um só destino teve: a vida breve.

Tenha-se assim por leve a vida breve,
o espírito o mais forte em toda lida,
e se viva na vida amando a morte.

Edmir Domingues


*Sextina: Um poema que apresenta um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros. Edmir Domingues foi um dos grandes poetas brasileiros que fez belíssimo uso da Sextina. ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Sextina ). Tem por estrutura seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. Assim, as palavras (ou rimas) que aparecem na primeira estrofe, na seqüência de versos 1, 2, 3, 4, 5, 6, repetem-se na estrofe seguinte, na seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3. E se faz na estrofe seguinte a seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3 em relação à estrofe anterior. E assim até a sexta estrofe, finalizando os sextetos. O terceto final, ou coda, tem, em cada verso, no meio e no fim, marcando as sílabas tônicas, as palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.

Recomendo: DOMINGUES, EDMIR. Universo Fechado ou O Construtor de Catedrais. Recife: Bagaço, 1996.